4 / 9 - OS 7 SINAIS DO APOCALIPSE

Os Quatro Cavaleiros do Lado Direito II

O Livro das Revelações é o último dos livros da Bíblia. Nele, somos levados a conhecer o que pode ser enxergado depois da ruptura dos lacres.

“E aberto primeiro lacre eu vi um um cavalo branco; seu cavaleiro trazia um arco e, sobre a cabeça, uma coroa.”

Os quatro lacres são abertos e seus conteúdos estão descritos com detalhes. Somente um deles é nominalmente citado, o último. “E aberto o quarto lacre havia diante de mim um cavalo pálido. Seu cavaleiro era chamado A Morte e atrás dele seguia Hades. A eles era dado o direito de remover vidas pela espada, pela fome, pela peste e pelas criaturas selvagens da Terra.

Os demais Cavaleiros do Apocalipse, como foram denominados, receberam interpretações diversas ao longo dos anos, mas formaram o quarteto da peste, guerra, fome e morte.

São símbolos arquetípicos. Dessa forma, residem em nossa memória arcaica. Disso cuida uma estrutura cerebral em forma de amêndoa, a amígdala cerebral, a que guarda o acesso aos arquivos da memória arcaica.

Feche os olhos por um instante e imagine quatro cavaleiros vindo com estrépito na sua direção. Três cavalos tem cores; um é pálido e sobre ele cavalga um esqueleto, a longa foice na sua mão. O que você sente? Não, não é o que você pensa; o que você sente quando procura pela sua espinha? Um leve, pálido, quase imperceptível arrepio? Medo, o medo simbólico originado em informações também simbólicas, é gerenciado pela amígdala cerebral, a guardiã de todos os medos.

Porque deveríamos sentir medo de figuras de cavaleiros com pressa e com coisas estranhas nas mãos? Porque analogias são livre-ideações pertencentes ao território do hermisfério cerebral direito; embora vaga e remota, há a possibilidade que lá vão ser encontradas associações perigosas, idéias desestabilizadoras, pensamentos lúgubres, e qualquer um deles pode pôr em risco a economia do organismo cuidadosamente regido pela lógica da segurança.

Pegue o atalho, reassegure-se, os cavaleiros são ícones de uma área de trabalho imaginária e eles lhe conduzirão ao vale fértil das idéias mais criativas que você pode ter.

O cavaleiro do cavalo branco tem arco e coroa. É exímio na pontaria e nobre na conduta. É o primeiro e abre o caminho para os demais. Sua pontaria alveja a lógica no coração e permite que as idéias fujam do contexto arrumado do cérebro racional. Descontextualizar é a ordem do dia. Você já pensou em despertar e sorrir sem razão? Todos acham que a felicidade vem antes do riso. Que rir precisa de motivo. “Sinto-me feliz, então posso rir, como vou rir sem razão para isso, vão me chamar de louco!” Na China e até mesmo em algumas cidades norte-americanas criaram-se núcleos do riso, onde pessoas se reunem para rir. Rir do que? De qualquer coisa, não interessa o motivo, interessa que a massa cinzenta do cérebro escuta o riso e põe em ações idéias que combinam com o rir.

Quem ri alveja o desânimo antes dele desanimar. Despertar sorrindo combina com dia bem-sucedido.

O cavaleiro do cavalo vermelho carrega a espada e representa a guerra. É um cavaleiro destemido, ousado, aferra-se à possibilidade que poderá resgatar tesouros das mãos dos inimigos. São neurônios armados de música, cores, sombras, tonalidades, prosódia e substantivos-surpresa. São os únicos neurônios capazes de comprar briga com os arcaicos setores do planejamento dos minutos seguintes. “Tenho tudo no bolso, o celular, as chaves e o porta-cartões?” Que tal abrir o jornal a esmo e dele retirar uma idéia, uma chamada, uma matéria que você vai pôr em prática na sua vida ainda de manhã? Guerra à única erva-daninha cerebral capaz de nos transformar em criaturas previsíveis, enfadonhas, descriativas, pré-moldadas: a rotina.

Remova a rotina dos nervos, as idéias surgirão como camponeses na colheita.

O cavaleiro do cavalo negro traz nas mãos a balança e representa a ordem na desordem. O hemisfério direito é voltado à criatividade, é certo, mas isso não quer dizer que tudo é improviso, adaptações improdutivas, representações desmembradas. Descontextualizar é criar fora da ordem natural, é imaginar a rosa azul, rótulo de produto que conta história, pensar o que o coração responderia no lugar da cabeça, mas não é romper com as ligações entre as partes.

Descontextualize. Pensa na idéia perfeitamente lógica, fora do setting dela. Ou no setting lógico com a idéia que logicamente pertenceria a outro.

O cavalo pálido é o único verdadeiro, como diz o Livro das Revelações. Ele decreta e conduz à morte. A ausência da criação ideativa dá margem ao acúmulo de material imprestável. A doença está à espreita assim como o inço na ausência de poda. Idéias que estagnam na cabeça, que não se ligam a desafios criativos, são idéias des-ligadas, fragmentos que circulam como fantasmas. Por causa disso são enviados pelo hemisfério lógico ao porão.

Lá porém está a o alicerce da casa, o encanamento doméstico, a rede elétrica; material desperdiçado no andar de cima e jogado aqui só atrapalha. O resultado é a interferência com os linfócitos, os nervos, as juntas. Sem idéias, ficamos doentes, febris, encarangados e artríticos.

Então, não temos quatro, temos só três cavaleiros. Rir, sair da rotina e descontextualizar, um a um, todos juntos, em dupla, como quiser e não precisa ser todos os dias e nem em ordem. Simplesmente liberte seus cavaleiros do lado direito

Se não, fique de olho no quarto. Ele costuma aparecer quando nada mais pode ser feito.